quarta-feira, 18 de junho de 2008

Ler para aprender a sonhar a própria liberdade...

Mais um pouco de Contardo Calligaris :

"A literatura é o catálogo de vidas possíveis"

"Cada objeto que nos rodeia é carregado de histórias de vidas humanas, de sofrimentos, jóias, sexo, amor, felicidade, morte... Quando eu era menino, essas aberturas vertiginosas sobre a polifonia e a complexidade do mundo me trancavam durante horas. A leitura provavelmente foi a grande culpada por essa enfermidade de minha infância. Que continua, embora melhor controlada."

Contardo Calligaris nasceu e morou na Itália até os 18 anos de idade. Na sua casa não existia televisão. Existiam livros. E ele lia muito, desde garoto - ficção científica, romances policiais e, depois, assuntos diversificados -, além de viajar constantemente com os pais para locais distantes, como Ásia e África, o que, com certeza, contribuiu para estimular ainda mais suas infindáveis investigações intelectuais.Após cursar a universidade na Suíça e morar em Paris por vários anos, Contardo mudou-se para o Brasil, sempre atuando de forma intensa no universo cultural, escrevendo artigos jornalísticos, ensaios, livros técnicos e clínicos.

Psicanalista, autor de várias obras - entre elas a mais importante monografia já publicada sobre Italo Calvino e o recente ensaio Adolescência, lançado pela editora Publifolha - e colunista do jornal Folha de S. Paulo, ele se divide atualmente entre São Paulo e Boston, onde fixou residência em 1994.

A função essencial da literatura, a seu ver, é a de libertar o ser humano: "A literatura é o catálogo das vidas possíveis e impossíveis. Quanto maior for nossa liberdade mais necessário se torna ter um catálogo de experiências possíveis para poder exercê-la. Porque ninguém é capaz de inventar uma vida a partir de nada. A vida é inventada a partir de uma combinatória de sonhos que já foram sonhados. A literatura é um meio de aprender a sonhar a própria liberdade.

Foi onde aprendi que podia e talvez precisasse viajar, 'perder países', como dizia Fernando Pessoa. Na literatura, descobri que havia alhures e que só esses alhures podiam dar algum sentido ao lugar onde, por acaso, eu tinha nascido."Para quem lê tanto, não é fácil selecionar e sugerir algumas leituras.
"Vou mencionar livros que estou lendo.
Bons ou ruins nem sempre é o critério melhor. Um dos livros que mais me influenciaram era espantosamente ruim. Um professor de religião, no secundário, sugeriu que a gente lesse Cristianismo e Teorias do Século, de um jesuíta de nome Marcozzi. Pois bem, era uma crítica sumária e babaca de Marx e Freud. Eu não conhecia nenhum dos dois na época, mas o fato é que me tornei logo marxista e mais tarde psicanalista. Sucesso de Marcozzi.*

Nestes dias, fiz enfim o download gratuito do conto de Stephen King Riding the Bullet. Primeiro, tive um prazer estranho em conseguir, pois não é simples: é preciso antes downloadar o programa Glassbook, instalá-lo, etc. Enfim, fiquei com a impressão (idiota) de que estava finalmente ganhando acesso a uma espécie de texto proibido ou iniciatório.

Depois, naturalmente, li o conto, que é bem curto (sem isso, seria intolerável lê-lo no computador). O horror gótico é uma necessidade aqui na Nova Inglaterra (King mora no Maine e muitas de suas histórias acontecem no mesmo estado). É uma maneira (saudável, acredito) de quebrar um tecido cotidiano que parece um cartão postal e por isso subentende a inelutável perfeição da ordem do mundo. Brrr…. Bem, venham espíritos malditos lembrar que a morte é deste mundo.*

Não posso esquecer de Viúva por um ano de John Irving, que está agora em português. Li quando saiu em inglês. Sou um fanático de Irving - Hotel New Hampshire é uma das lembranças de leitura mais prazerosas que eu tenho. E Viúva é um Irving dos melhores.

* Acabo de ler Brasileiros nos Estados Unidos de Ana Cristina Braga Martes. Por morar entre Boston e São Paulo e ter ensinado patologia das migrações, não perco nada ou quase do que se publica sobre a imigração brasileira nos Estados Unidos. O livro de Braga Martes é um prazer: documentado, correto, carinhoso e comovido quando precisa.

* Também acabo de ler Cute, Quaint, Hungry and Romantic de Daniel Harris. É uma espécie de estética do cotidiano pós-moderno. Harris, a partir dos objetos mais comuns que enchem nossas casas, consegue escrever uma espécie de catálogo das qualidades com as quais gostamos de dar sentido a nosso mundo. É inteligente, sardônico e pertinente. Lembra (um pouco) o Roland Barthes das Mitologias.

* Estou lendo Experience de Martin Amis. Gosto dele e não vou me privar das memórias de um escritor que teve de lidar com um pai monumental e também escritor. O meu (pai) não era escritor mas foi (para mim) monumental. Portanto, toda dica é bem-vinda.* Bom, naturalmente, estou na fila para o Harry Potter número 4, de J. K. Rowling. Li os três primeiros e não deixarei de ler os outros até a série inteira ter acabado.por Lays Sayon

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