quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Um haiku



O ladrão
a deixou para trás -
A lua na janela.


Ryokan


Foi justamente isso que Ryokan escreveu logo que o ladrão foi embora.


Toda a história é bonita....


Uma noite um ladrão entrou na pequena cabana de Ryokan.

Ryokan tinha apenas um lençol que ele utilizava noite e dia para cobrir seu corpo.


Isso era a única coisa que ele possuia.

Ele estava deitado mas não estava adormecido, então ele abriu os olhos e viu o ladrão entrando.


Ele sentiu muita compaixão por ele pois sabia que não havia nada na casa. “Se o pobre companheiro tivesse me informado antes, eu poderia ter pedido alguma coisa aos vizinhos e teria guardado aqui para ele roubar. Mas agora, que posso fazer?”


Vendo que nada havia, que ele tinha entrado na cabana de um monge, o ladrão fez menção de sair.


Ryokan não pôde resistir.


Ele deu seu lençol ao ladrão.


O ladrão disse, “Que você está fazendo? Você ficou despido. Essa noite está muito fria!”


Ele disse, “Não se preocupe comigo. Mas não se vá de mãos vazias. Eu gostei desse momento, você me fez sentir como um homem rico. Ladrões geralmente entram nos palácios dos emperadores. Por você entrar aqui, minha cabana também tornou-se um palácio, eu também tornei-me um emperador. Na minha alegria isso é um presente”.


Mesmo o ladrão ficou sentido por ele e disse, “Não, eu não posso receber esse presente pois você não possui coisa alguma. Como é que você vai passar a noite?

Está tão frio, e está ficando mais frio!”


Ryokan disse com lágrimas nos olhos, “Você me lembra de novo e novamente da minha pobreza. Se tivesse em meu poder eu me apoderaria da lua cheia e a daria a você”.


Quando o ladrão foi embora ele escreveu em seu diário:
O ladrão
deixou-a para trás -
A lua na janela.


Estes haikus não são poemas comuns. Estas são declarações de profunda meditação.


Dogen, The Zen Master: A Search and a Fulfillment

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